BATE PAPO COM O LEITOR – SUELI NITSCHE. OS CLÁSSICOS “QUADRADOS?”

jr-iw-1-nov-2014-001-690x460

Da Sueli.

Mario

Lendo seu último artigo sobre impressionismo achei muito forte você chamar os pintores clássicos e os clássicos de “quadrados”. Vejo certo formalismo neles e uma ênfase nas formas. Só isso.
Quem sabe, Mario se você poderia rever este seu conceito ou elaborar um pouco mais sua resposta.
Abraço
Sueli

Sueli

Vamos ver isso.

Que tal se mudássemos o termo “quadrado”, que usei,  por uma outra palavra? Poderia ser, “muito acadêmica”, por exemplo.

Melhorou… Melhorou, tá vendo!

“A pintura antes do século XlX era muito acadêmica”.  Agora sim!

Às vezes, uma palavra negativa atrai o foco ao menor valor e perdemos a essência. Foi o que fiz, ou o melhor, disse… e você chamou a minha atenção. Obrigado.

Vou usar um exemplo para explicar melhor o meu ponto.

Exemplos não são completos… E eu não exemplifico bem. Mas vamos lá.

Os Maias acreditavam que existiam sete céus. Características diferentes, mas eram céus! O primeiro céu era destinado aos homens que caiam em batalha por uma causa nobre ou defendendo seu país e mulheres que morriam durante o parto. Um céu para os bravos! Pessoalmente duvido que uma garota maia alimentasse sonhos em se casar, ficar grávida, morrer no parto para poder ir para lá!

Era um dos sete céus, ou uma dimensão do CÉU! Céu é Céu.

A IMPRESSÃO é uma dimensão da Arte. O clássico também! Arte é arte. À medida que o ser humano vive vai descobrindo dimensões do todo que o envolve.

Veja o Turner. Joseph M. William Turner. Quando garoto desenhava bem, bem demais. Seus desenhos eram exibidos na barbearia do seu pai. Sucesso.

Com 14 anos entrou na Royal Academy of Art School. Logo depois estava exibindo lá uma aquarela e logo-logo o seu primeiro quadro a óleo. Ano a ano participou em exposições na academia até o fim da sua vida.

Viajou pela Europa principiando pela França e estudou no Louvre em Paris. Foi a Suíça. Visitou várias vezes Veneza. Estudou a pintura a fundo. Como tudo que fazia.

Independente financeiramente Turner inovou, criou com liberdade… Criar e independência são sinônimos. Todos nós conhecemos pessoas com ideias maravilhosas… e dependentes na grana. Tudo vira lugar-comum e o que os contribuintes querem.

Turner desenhava como ninguém. Mas a luz era fundamental para ele. Ele a via como a emanação de Deus e por isso, para mostrar a luz, Turner cuidava de não colocar muitos objetos e detalhes no quadro! Ele se concentrava na dança da luz com a água e no brilho dos céus.

Lia Folch uma grande pintora e minha amiga dizia sempre e sempre…

“Mario, o segredo de um quadro importante é o que você não pinta nele!”.

Nos seus últimos trabalhos Turner parecia um impressioNISTA. Olhe o ismo aí… Na realidade ele buscava mais uma expressão de espiritualidade no que decidia pintar em vez de simplesmente responder ao estímulo do objeto.

Veja só… ele tinha condições de desenhar com detalhes mas decidiu dissolver o desenho e a forma em busca da função!

Turner buscava a FUNÇÃO e não a FORMA.

Precisamos aprender a pensar em FUNÇÃO. Ela é o coração dos movimentos, da pintura, da vida, dinamismos e liberdade.

Monet estudou profundamente Turner que foi um dos pilares da IMPRESSÃO desposada depois por ele.

O processo de descobrir…

Os grandes aventureiros sempre descobrem a FUNÇÃO.

Dizem que Turner pediu para ser amarrado a um mastro para poder ver, sentir, curtir uma grande tempestade no mar; vagalhões imensos, o vento, a atmosfera conturbada, e a luz dos relâmpagos iluminando o escuro. Acredito, vendo os quadros dele.

Aliás, esse é um dos meus sonhos…

Um abraço e obrigado.



Posted in Bate Papo com o Leitor.