ENTREVISTA COM MARIO NITSCHE – ODARA BRAUN 2

@PENSADORA-ODARA-LENDO. EKKLESIA

Segunda

Entrevistar o Mario
dá um bom trabalho e é um trabalho bom. Telefone, e-mails e Skype. Muitos dos assuntos foram conversados naturalmente nas horas que passamos juntos em Salvador. Um volume considerável de assuntos foi plantado em muitos e-mails e correspondência anterior. Ajudou demais a presença de um grande amigo do Mario que esteve aqui com ele e tornou-se meu amigo também. As famílias deles são amigas há anos! Três pessoas falando sobre vida e o contar histórias. Defini algumas perguntas, mas prefiro que ele fale o que espontaneamente vem do espírito dele.

Odara

Esquecendo por um pouco a sua futura representação como galã de radio novela para nós, o que mais aconteceu na sua carreira-vida?

Mario

Um grupo pequeno de amigos e três outros fatores fundamentais na minha vida: o mar e as montanhas. E leituras. Eles moldaram a minha vida, caráter e modo de ver o mundo.  Entende? Isso é escrever! O mundo vai esculpindo você e você vai aprendendo sobre ele e ficando com vontade de contar.

ODARA

Amigos, Mar, Montanhas e leituras. Quantos anos você tinha, Mario no meio disso tudo?

Mario

Uns 14 anos.

ODARA

O Mar só aos 14 anos?  Muito tarde! Faltou o mar na sua infância. Deveria ter nascido em Salvador, Mario.

Mario

Bem, sabe como é… a gente simplesmente nasce! Só depois descobrimos que nascemos. E depois, onde. Mais tarde descobrimos onde seria legal ter nascido.

ODARA

Concordo… (rindo)

Mario

E foi só com essa idade que deu pra eu ir! Fugi de casa, literalmente e fui para a praia. Matinhos, próxima a Curitiba!  Ah e fui batizado dentro do ônibus!

ODARA

O que? Conte isso…

Mario

Isso mesmo. Houve um solavanco e um saco de farinha que uma mulher tinha guardado em cima rompeu-se espalhou farinha pra tudo quanto é lado e depois caiu. Eu e um grupinho ficamos brancos!

ODARA

(Rindo muito). Que bom… se isso pega cria-se mais uma religião!

Mario

Pare com isso… Já têm muitas! Odara, a ineficiência e artificialismo com cor religiosa provocam o cataclismo!

ODARA

Voltemos ao seu escrever Mario. E o que mais sobre o mar?

Mario

Na ida ao mar – a saída de casa — começou uma outra parte importante no tudo que sei, experimentei e alguns passos para o futuro e o que continuei a pensar e fazer na vida. Mas, sabe, foi legal. Desci do ônibus em Matinhos. Ainda meio branco e queria ver o mar! Meio sem saber o que fazer, perguntei a um cara que ficou rindo de mim: “Amigo onde fica o mar?” Ele me apontou e fui para lá cheio de farinha e completamente fascinado. O mar estava a uma meia quadra do ponto de ônibus! Só… E Vi! Fiquei horas e horas sentado numa pedra olhando-o. Uma amizade eterna. O mar está sempre muito próximo da gente…

ODARA

Que maravilha. Continue!

Mario

Vou resumir. Um grupinho de amigos e escalada de montanhas a sério na Serra do Mar. Muitas aventuras nessa fase. Escalamos no Rio de Janeiro também. Viagens. Lembro-me de muitas e muitas conversas sobre… tudo. Diálogos, discussões… Depois veio o governo militar e alguns dos meus amigos sumiram ou foram presos. Fui até um pedaço com eles, mas vi que eles estavam ruminando uma quantidade de ódio assustadora e achei que cultivar ódios não era a vida como eu a buscava. Parei. Trabalhei num banco. Fiz odonto e comecei a clínica em 1970! Nesse ano também passei num vestibular de Filosofia Pura… Por pura vontade de manter-me intelectualmente mais por dentro. Tive que parar a filô depois de um tempo.  A necessidade de pagar minhas contas foi grande e a clínica exigiu mais de mim.

ODARA

Quantas experiências…

Mario

Voltemos um pouco. Mais ou menos em 1965 aconteceu algo que foi decisivo e importante.

ODARA

Diga…

Mario

Um dia fui à uma palestra sobre psicologia infantil. Interessante. Não concordei com alguns dos pontos de vista do palestrante e tivemos uma boa discussão. O tradutor era um cara muito legal e inteligente. Fizemos amizade. Ele queria criar um grupo pequeno para discutir idéias com base numa leitura dinâmica e não religiosa nos documentos do novo testamento. Topei. Foi ótimo. Ao fim ficamos, eu e ele, durante uns quatro anos, em excelentes conversas. Pela paciência dele vi aspectos da mensagem do NT que nunca tinha ouvido antes. Ele tinha uma família maravilhosa. Também ele participava num grupo maior de pessoas. Até hoje somos amigos.

ODARA

Mario nunca imaginaria! E como continuou o processo e que papel tudo isso teve no seu hábito de escrever?

Mario

Primeiro, entrei nos documentos do velho e novo testamento para ler, pensar e refletir neles! Não os ouvi em pregações ou interpretações dogmáticas – e até hoje detesto pregações. Descobri a sabedoria e o encanto dessas preciosidades. E tão importante quanto isso foi a amizade que eu e ele fizemos! Andamos juntos durante um bom tempo. O que aprendi com ele foi pessoal e o que passei a ele, idem. Uma aventura e tanto. Nesse, digamos, contexto, num processo longo, conheci muito melhor um personagem impressionante: o famoso Jesus o “Christós”. Um ilustre desconhecido hoje, mesmo com todas as religiões oficiais ou não. E tudo, – refiro-me a vida como um todo –  um dia, precisa ser contado!
ODARA

Que bonito… Tão raro uma coisa assim hoje em dia! Como é o nome dele, Mario?

Mario

James Petersen. Jim para os amigos.

ODARA

Mario e esse conhecimento novo de um Cristo pessoal e de um modo pessoal… o que significou na sua vida?

Mario

Resumindo… Um ponto vital onde tudo que vivi antes convergiu… Uma dinâmica na aventura da vida! Um somatório… Os retalhos espalhados aqui e ali ganharam a colcha. E foi um começo numa dimensão nova na aventura do estar vivo no grande dia de hoje.

ODARA

Muito bom… Que experiência! Mais tarde quero entender melhor isso. Vamos ficar no que enriqueceu a sua vida e visão do mundo. Tenho uma pergunta mais de cunho pessoal… Posso?

Mario

Pode e deve!

ODARA

Lembrando do galã de radio novelas… Você crê ser um tipo, digamos… Sedutor?

Mario

Se…

ODARA

…dutor! Isso mesmo! Responde?

Mario

Sim, só vamos ver o como! (Rindo). Lembra-se que comentei que fui um moço muito brabo?

ODARA

Sim.

Mario

Um dia, depois de uma enorme briga na Serra do Mar, à noite, pensando, vi que não iria muito longe com aquela atitude frente a pessoas e à vida.

ODARA

Sei.

Mario

Descobri e decidi que tinha que gostar mais de pessoas; e, intuitivamente decidi OUVI-LAS melhor, ENTENDE-LAS melhor. Foi uma luta… foi difícil… Conscientemente deixei de brigar e passei a pensar que o outro SEMPRE tinha algumas razões que eu desconhecia. Passei a fazer decisões nessa base… errei em muitas, é claro.

ODARA

Fascinada, Mario…

Mario

Um novo modo de viver abriu-se e até se constituiu um certo poder para mim… Pessoas que são ouvidas mudam! Gostam da gente… nos procuram mais. Isso é geral; mas, as mulheres ouvidas, levadas a sério ficam mais animadas. É a única coisa que vem a minha cabeça com a sua pergunta!

ODARA

… É possível! (rindo)

Mario

Falou! Odara imagine seis bilhões e seiscentos milhões de pessoas vivas; e, digamos, quarenta por cento do número são homens. Homens que apreciam o maravilhoso sexo frágil, claro… Vamos ter na face deste lindo planeta uns três bilhões de sedutores em maior ou menor intensidade!

ODARA

Obrigada… Nós, as mulheres, agradecemos! Quantos sedutores… Que bom! Atenção meninas… têm, pelo menos alguns milhões de partidos por aí!

Mario

E descobri que sempre que aprendemos uma arte, ela se torna um grande desafio para ser vivida… com bom senso! No crescer como pessoa há perigos e vida! O ficar confinado por algumas leiszinhas é mais confortável, mas ao tempo nos deixa estéreis!

ODARA

Gostei do seu pensamento!

Mario

Curiosidade… Sabe como terminou a briga com o cara lá na Serra? Uns meses depois eu o encontrei bem no centro de Curitiba. Vínhamos um ao encontro do outro na mesma calçada. Dei um grande sorriso, fui até ele, abracei-o e disse: “Cara, que briga idiota aquela nossa! Por favor, me desculpe…” (Rindo) ele ficou surpreso e não sabia o que dizer ou fazer… riu também e pediu desculpas. Disse que a culpa era dele. Falei que era minha e pronto! Para não brigarmos de novo assumimos cada um uns 50% da culpa.

ODARA

Não acredito…

Mario

Um dia nos encontramos lá na Serra do Mar, no Marumbi. Bem próximo à estação tem um rio maravilhoso que desce das montanhas e antes de uma bonita ponte de ferro, o rio forma um poço pequeno que usávamos para tomar banho após descer das montanhas. O meu ex-inimigo e eu trabalhamos um dia inteiro carregando com as mãos pedras de diversos tamanhos (algumas bem grandes) e aumentamos o dique natural deixando a piscina melhor e maior! Usamos nossa força em uma coisa mais afinada com a natureza e a nossa estada por lá!

ODARA

Maravilhoso… Muito bom. Temos que pensar melhor nisso, Mario. Temos que pensar melhor nisso! Uma luta no sentido de aceitar diferenças e de construir e se construir!

Mario

Foi divertido!

ODARA

Já temos um passo a mais no conhecimento de alguns fatores que te construíram, Mario. Na próxima vez entre outras coisas, que tal o momento quando você começou a contar histórias de um modo sistemático. Obrigada pela oportunidade e a parte que me toca no elogio às mulheres!

Mario

Eu agradeço muito. Todo o processo de falar, pensar nas suas perguntas e respondê-las me ajuda! Cada ser humano precisaria ser entrevistado. O passado revisto, reavaliado, remoldado, reinterpretado… tem a mesma sedução da ficção, do conto. Estamos escrevendo um conto! Para entender alguém melhor precisamos entrevistá-lo! Um dia vai ser a sua vez.

ODARA

Rindo… É mesmo. Um conto de aventuras. O Amor Maior está crescendo em Salvador. E um dia será a minha entrevista. Até a próxima!

Beijos

Curitiba – Salvador, 21.07.2010

 

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